1.No momento a Tv Record, spin verbalizadora, pessoa jurídica, fala de uma doença chamada co-dependência. Na reportagem a entrevistada, a  Ritinha, diz que  sofria muito ao dedicar-se totalmente ao outro, esquecendo-se de si mesma, de cuidar-se, de amar-se mais um pouco. Ela lançou o livro “Aprendendo a Amar-se”, a repórter não indicou claramente o título nem a editora. Achei interessante o assunto.  Ela disse estar sob tratamento
médico  para perceber-se mais e, assim, evitar esquecer-se de si.  Diz a reportagem que a maioria das pessoas sofre deste mal  sem se darem conta do problema. Daí pessoas que
(     ) nunca diz não
(     )baixa auto-estima
(     )vive desarrumado(a)
(     )prefere namorados não autônomos mas co-dependentes, problemáticos
Há aquele que, sem autonomia, depende do outro prá tudo. Por outro lado, há aquele que gosta que o outro dependa de si. Papel e  contra-papel.
Acho que sou que nem a Rinha citada no versículo 1. Vai ver sofro do Complexo de Atlas?
 (      )não diz não no trabalho por medo de ser visto como mau funcionário ou talvez por querer mesmo viver feito Atlas
(      )desarrumado
(      )vive com o moral baixo
(      )baixa auto-estima
(      )alimenta-se com culpa
(      )goza com culpa
2. No momento  são 8.34h do 14♫ dia do mês de urano, 2004
No momento estou tranqüilo, não sinto-me Atlas
O planejamento adotado para a construção deste mensário oxigenou-melibertou-me  de várias situações, como por exemplo, a de que faço isto por obrigação, tipo carregando o mundo nas costas. Nada disso. Não tenho nenhuma obrigação nem sinto tal sensação. Não sentir-me-ei nenhum um pouco culpado se, ao final de urano,  mês que vai de 14/08 a 25/10, este mensário estivesse em branco. Sinto-me tão aliviado, tão livre assim! Sou só felicidade. E fiquei mais feliz ainda quando, no forró-das-velhas que, prefiro chamar de Forró-das-Sem-Idade, vi que aquela gente desdentada, pobre, aos pedaços mas alegre, pode muito bem e, o melhor de tudo, de forma feliz, construir mensários como este que construoolhosou  ao seguir o seguinte calendário/planejamento:
Marte: 07/01 a 20/03 ( 73 dias, 74 em ano bissexto)
Júpiter: 21/03 a 01/06 (73 dias )
Saturno: 02/06 a 13/08 (73 dias)
Urano: 14/08 a 25/10 (73 dias)
Netuno: 26/10 a 06/01 (73 dias)
Se ao terminar cada mês a obra está encerrada? Não. Exemplo: ao concluir este mensário, em 25/10, na verdade não o concluí, a não ser que eu morra até Urano do próximo ano. É que quando chegar a urano do próximo ano quero continuar este mensário. Eu deveria ter seguido este planejamento desde quando nasci, aliás, desde quando ainda eu estava no útero da minha mãe, neste caso através de meus pais captando meus movimentos, sons, estados de alma, etc. Isto significa que, ao término da minha vida neste planeta, eu deixaria não apenas ossos no cemitério mas, cinco livros: Marte, Júpiter, Saturno, Urano e Netuno. Tudo bem, se não fiz, posso fazer agora, daqui pra frente. As pessoas, desde a idade intra-uterina, podem construir seus mensários. Falando nisso, tenho uma sobrinha a qual está prestes a nascer. O nome dela é Ana Luiza. Este nome foi sugerido pelo pai, meu irmão. Ele sonhou com este nome para ela. Enfim, percebe-se que a Ana Luiza, já a partir de agora, terá seu mensário construído, suas imagens, seus sons, os depoimentos e imagens de sua mãe grávida. Então, a Ana Luiza deverá nascer no final de outubro próximo, ou seja, no mês de urano ou netuno, não sei ao certo. Ela já existe agora. Ao final de sua vida, com certeza, ela deixará no planeta Marte, Júpiter, Saturno, Urano e Netuno, ou seja, seus 5 mensários. Aí pergunto-me: porque não tenho estes 5 mensários hoje. Tenho-os. Ocorre que, como ainda não havia brotado o planejamento de hoje, os mensários estão em forma de folhas soltas por aí. Resta a mim, agora, sem depender de outros para isso, organizar meus cinco mensários. Devo fazer isto até mesmo porque se eu morrer hoje deixarei neste planeta apenas ossos no cemitério quando gostaria deixar Marte, Júpiter, Saturno, Urano e Netuno, meus 5 mensários. Falando em morte, hoje é missa de sétimo dia do falecimento de Otaviano, meu tio. Ele tinha quase 70 anos de idade. Ele morreu dormindo.Nem Maria, a esposa dele, que dormia ao seu lado, presenciou a sua morte. Ao chamá-lo para tomar café não respondeu: estava morto. Uma morte que todos desejam, não é?
3. Ontem fui a um paramédico, psicólogo especializando em bioenergética na Universidade Católica de Goiás. O nome dele é Marcelo Moreira. Quando ele me ligou me convidando a participar da sua prática, não me interessei por  tal intervenção por imaginar ser aquele coisa de misticismo. Ledo engano! É ciência pura, há pesquisa rolando por aí.  Enquanto ciência, a bioenergética é novidade em Goiânia mas não em grandes centros como Belo Horizonte, São Paulo e Rio de Janeiro. A base da bioenergética é W. Reich e Alexander Lowen, um pouco de Freud, etc. Terei sessões às 3a. e 5a. feiras às 19 horas. Não pagarei nada, uma vez que a UCG é entidade filantrópica. Ontem fui submetido a uma técnica chamada Grouding, que inclui respiração, postura, etc.
Antes do exercício ele me fez perguntas para me conhecer mais, conversamos bastante e de forma aberta.
Ele: sua infância
Eu: na roça. Liberdade. Sem contacto com outras realidade, outros culturas. (...)
Ele: adolescência?
Eu: no meio urbano. Na adolescência, a dicotomia ser simples x ser carrancudo, ou seja, o conflito masculino x feminino. Naquela época eu comecei a fazer o que gosto até hoje, que é escrever. Escrevi no corpo: ser simples. Para ser simples soltei o corpo. Respirei. Soltei o diafragma. Espontaneidade. Com o tempo, vi que o “ser simples” não me levou a ter amigos. Por isso apaguei o “ser simples” do corpo. Substitui o “ser simples” pelo “ser carrancudo”. Fiz isto para parecer um ser igual aos demais. Para ser carrancudo, fechei o rosto, os pés, o diafragma, tudo. Joguei futebol. Dei e levei porrada para mostrar que era homem. Cansei de ser carrancudo. Vi que não arrumei amigos e, além disso, continuei sendo apontado como um afeminado. No meio urbano, aos 21 anos de idade, tive a minha primeira relação sexual, com um homem, como sempre desejei. Aos 24 anos, ou seja, em 1983, quando a mídia ajudou a internalizar a AIDS como coisa de gay, saiu um furúnculo na minha perna. Consultei um médico, o Dr. Jorge Dourado Guanases que, sem me submeter a qualquer exame, nem mesmo o hemograma, disse que eu estava com AIDS e que, tal como havia acontecido com o estilista Makito, eu teria no máximo 6 meses de vida. Aí não retornei mais ao médico. Recolhi-me. Passei 30 dias escrevendo, quase fiquei desempregado por abandono de emprego. Recuperei-me depois de um bom tempo de exílio, ah, naquela época uma coisa que me fez bem foi ver o cantor Ney Matogrosso com o moral alto, sim, magnífico apesar das nuvens negras no horizonte. Vi o Ney na TV cantando Tanto Amar, de Chico Buarque. Pensei: engraçado, olha aí o Ney, que bonito, que voz, a divina presença do feminino no masculino. Ele apresentou-se com umas asas, se não me engano, confeccionadas pelo Markito, que havia morrido de AIDS. Continuei percebendo que o Ney sim, é que, do meu ponto de vista, possuia mil motivos para estar com a auto-estima lá embaixo, no porão, uma vez que muitos dos  seus amigos estavam com o HIV/AIDS. Porém, quando assisti ao Ney cantando Tanto Amar, no programa Fantástico, da Rede Globo, aquele clip funcionou como um acalanto para mim. Uma mensagem, um aviso. Foragido do médico Dr. Jorge, escrevi para deus e o mundo, para meus pais, para o Ney Matogrosso. O Ney foi  a primeira pessoa para a qual pude dizer as coisas livremente, para quem eu entregava objetos como pedras, sementes, etc, no camarim, após seus shows, ele sempre me recebeu com atenção apesar do visível cansaço após exaustivo show, enfim, tenho que ser eternamente grato ao Ney por ele ter sido assim, por ele ter existido, aliás, por ele exitirolharser. Já que não tive um médico para me ouvir, tive o Ney.  Então desenhei. Fiz colagens. Pintei. Sonhei. Escrevi, escrevi e escrevi e, dos textos, brotavam idéias, imagens, andanças, tudo. Foi um verdadeira viagem desde o princípio do cosmos até hoje. Fui tido como louco. Saí pelas ruas com o rosto oculto, um pano vermelho cobria meu rosto, este pano achei no interior da igreja Sagrado Coração de Maria, tirei do cálice e passei a usar. Senti-me um cálice. Naquela época sonhei com a frase “verão meu rosto e não saberão quem sou”.  Quem eu era? Não sei. Sabia apenas que eu não era um vírus, assim como fui visto pelo Dr. Jorge. Ele me viu não como um ser humano mas como um vírus, não como uma bicha, indivíduo humano, mas como uma bicha, indivíduo animal. Foi bom ter passado por  tudo aquilo. Tenho boas lembranças daquela época. Faz parte da minha memória afetiva ter vivido feito louco, tal qual um foragido, foragido  da realidade. Aquele rompante, aquilo, foi o que de melhor aconteceu em toda a minha vida. Estou até pensando em reconstituir tudo aquilo, todas aquelas loucuras, foi tudo formidável embora tudo inconsciente, sem saber o que eu estava fazendoolhandosendo. Lamento não ter guardado todo aquela matéria que, hoje, eu guardaria em Júpiter e Saturno, ou seja, no mensários denominados Júpiter e Saturno,  uma vez que aquilo ocorreu entre 21/3 e 1/6. Sei lá, aquilo se estendeu por Marte, Júpiter, Saturno, Urano e Netuno, esta é a verdade. Isto que faço hoje é continuação. Continuação daquele gesto de 1971, talvez d’antes, quando eu oscilava entre o “ser simples”  e o “ser carrancudo,”  ou seja, entre o masculino e o feminino. Por isso gostaria que as pessoas não jogassem no lixo as coisas que elas vivemolhamsão. Por isso quero que a minha sobrinha Ana Luiza seja guardada nos olhos nossos, de seus pais. Por isso gostaria que todos atentassem para esta realidade: guarda teus olhos.
Ele: baseado em seu prontuário, fiquei em dúvida quanto àquilo que mais te incomoda, se é a ejaculação precoce, a solidão ou o conflito masculino x feminino.
Eu: a ejaculação precoce não me incomoda, pode incomodar o outro, não a mim. O meu último parceiro, por exemplo, se incomodou com a minha rapidez. Fui a um Sex Shop e comprei uma pomada mas acho que era Passa Já,  remédio pra dente. Quanto a solidão, necessito dela, gosto de ficar a sós, gosto de sair, quem não se incomoda com a solidão. Isto me incomoda sim, como a todo mundo. No entanto, o que mais me incomoda é a questão sexual, este eu que sonha com mais liberdade de viver em companhia de uma pessoa sem ser submetido ao implacável olhar do outro, como por exemplo, aos olhos de raios x dos evangélicos, dos porteiros do prédio onde moro, da faxineira, enfim, exceto meus pais, estes sim, me compreendem, me aceitam como sou, meus irmãos e irmãs costumam me procuram para estar na companhia deles(as) porém, eu é que sou arredio, bicho do mato, misantropo, acho que tenho medo de gente, inclusive de meus familiares. Eles dizem que sou arisco.
Ele: ser homossexual te aflige?
Eu: não sei se me aceito. A gente nunca sabe. Às vezes a gente acha que sim e, na verdade, no fundo no fundo não se aceita como é, tem conflitos, daí o motivo de estar aqui não para deixar de ser gay, não quero isto. Estou aqui para me aceitar como nasci, como sou. Interesso-me pelo assunto. Leio os artigos sobre o assunto, como por exemplo este artigo publicado no jornal Folha de São Paulo, de 26/08/2004, no caderno Folha Ilustrada, de autoria do jornalista Contardo Caliigaris. Ele escreveu o artito para falar da matança de moradores de rua. O título  é  “Quem Tem   Medo dos Moradores de Rua?” ( que traduzi, para mim, como “Quem Tem Medo dos Homossexuais?”) onde, num  parágrafo ele diz que: “Mas a história do Edson Néri da Silva pode ajudar a entender o que aconteceu na semana passada. Você lembra? Foi a obra de “skinheads” decididos a acabar com “uma bicha”. Os massacres de homossexuais sempre falam da homossexualidade reprimida de quem mata. Sem exceção, os assassinos tentam abolir uma fantasia sua. Batendo no “veado” na rua, querem acabar com o “veado” que não os deixa dormir, o “veado” que está dentro deles. É o mesmo ódio que anima os idiotas que passam de carro ao lado do Jockey Clube, à noite, para zombar dos travestis. Gritam injúrias para silenciar sua própria incerteza de gênero e sexo.”




20/08/2004
Opinião
Violação de direitos dos homossexuais, por Luiz Mott



Goiânia foi apontada em pesquisa realizada em 2004 como “a cidade brasileira com o maior índice de preconceito contra gays e lésbicas: 18% da população acha o homossexualismo uma doença”. Dados coletados pelo Grupo Gay da Bahia e Associação Brasileira de Gays, Lésbicas e Travestis felizmente não confirmam esta vergonhosa liderança: apesar de serem preocupantes as manifestações de ódio aos homossexuais nesse Estado, verdade seja dita, tanto em número de homicídios quanto relativamente à violação de direitos humanos, Goiás ocupa o sétimo lugar em homofobia no Brasil, depois de São Paulo, Pernambuco, Bahia, Rio de Janeiro, Amazonas, Paraná. Situação que não deixa de ser preocupante, pois nas duas últimas décadas foi assassinada em Goiás uma média de quatro homossexuais cada ano – perfazendo um total de 46 vítimas, sendo 33 gays, 10 travestis e 3 lésbicas. Violência antigay que tem aumentado nos últimos anos: 4 homicídios na década de 80, 28 nos anos 90, 14 crimes de morte nesses três primeiros anos do terceiro milênio. Goiânia concentra 95% dos crimes homofóbicos, registrando-se também homicídios semelhantes em Anápolis, Santo Antônio de Goiás, Catalão. Entre as vítimas, cabeleireiros, comerciantes, funcionários públicos, padres, estudantes. 40% destes homossexuais executados com armas de fogo, 25% a facadas; os restantes assassinados com requintes de crueldade: estrangulados, enforcados, crânio esfacelado.

Os assassinatos são a manifestação extrema do ódio anti-homossexual, mas, no dia-a-dia, milhares de gays goianos têm sido vítimas do preconceito e discriminação, embora pouquíssimos destes crimes cotidianos cheguem aos jornais. Entre 1997-2003, a imprensa goiana noticiou quando menos 31 denúncias graves de homofobia – certamente apenas a ponta de um iceberg de ódio e violência, incluindo seis categorias de incidências: agressão física a homossexuais, violência contra travestis, discriminação contra lésbicas, ódio de cristãos fundamentalistas contra homossexuais, homofobia contra menores gays, ataques na internet e discriminação no dia-a-dia. Em Rio Verde, o então pastor Onaldo Pereira, decano do movimento gay no Estado, recebeu ameaça de ser apedrejado e sua casa e templo parcialmente incendiados após celebrar o casamento de homossexuais. Policiais de Goiânia repetidas vezes prenderam e espancaram violentamente dezenas de gays e travestis no Bosque dos Buritis e Avenida Paranaíba, chantageando-os e extorquindo dinheiro. A Justiça em Goiás negou a mudança de nome a transexual mesmo depois da operação transgenital. Cartórios de Goiânia recusam-se a registrar união de homossexuais. Lastimavelmente, lideranças evangélicas e católicas fundamentalistas goianas têm se destacado no ódio anti-homossexual, seja internando jovens gays em casas de recuperação, seja ao encabeçar campanha contra a legalização da união civil entre pessoas do mesmo sexo. Menores gays foram vítimas de grave desrespeito à sua verdadeira identidade existencial: travesti adolescente expulso de casa em Itaberaí, gay de 14 anos deserdado pelos pais em Jataí, menino de 4 anos castigado por ter beijado outro menino na creche. Também as lésbicas têm sido vítimas do racismo sexual em Goiás, sobretudo dentro de casa: 63% de lésbicas entrevistadas denunciaram ter sofrido violência familiar.

É alvissareiro e esperança de mudanças estruturais neste triste quadro de violação dos direitos humanos o lançamento em Goiás do programa “Brasil sem Homofobia”, iniciativa da Associação Goiana de Gays, Lésbicas e Travestis, do Grupo Ipê Rosa e demais entidades homossexuais do Estado. Que as diversas secretarias do Estado de Goiás – Educação, Cultura, Direitos Humanos, Segurança Pública –, assim como a Polícia Militar, se convençam definitivamente que os homossexuais também são seres humanos e carecem de ações afirmativas imediatas para garantir sua cidadania plena.

Luiz Mott é doutor em Antropologia, comendador da Ordem do Rio Branco e do Grupo de Trabalho de Ações Afirmativas GLT do Ministério da Cultura.

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