segunda-feira, 11 de junho de 2012

Antigas correspondências



Enviada: 20/05/2006 13:55
Cuidado, vc leitor da Veja que não vê, dentre em pouco estará mais desinformando
do que jumento. Se você é vestibulando, lendo a Veja, corre um sério risco
de ser reprovado no vestibular por desinformação. Pois a colocar na cabeça
estas matérias da Veja, que aliás não são matérias factuais mas invencionices,
panfletos da pior qualidade, leva seus leitores a uma desinformação e ignorância
total. Noticiar com isenção e responsabilidade, em cima de fatos,  é uma
coisa.  Montar  mentiras é outra... Talvez neste segundo caso se justifique
a Veja. O que importa, no momento, é mentir mentir mentir para ajudar o candidato
da elite branca, esta casta que, com muita competência e ironia, foi exposta
por Lembo em sua polêmica entrevista. É claro que Veja faz parte deste Estado
Mafioso do qual faz parte o PCC, a partir do momento em que não lhe interessa
os meios para atingir seu fim: a ditadura, digo, a rapadura de volta. Fora
Veja bandida. Fora regressistas do período colonial!
Vamos ao que presta:

Na Trip # 144 o “Mito” solta o verbo. Fala também sobre o golpe de 64, o dia em que teve umpesadelo com Zeca Pagodinho, a vontade de ser o Capitão Marvel, suas inspirações misteriosas, a timidez em cima do palco, a morte da MPB, o medo do ócio e a saudade da boemia.
Como foi sua relação com a análise? Não me dei bem com a psicanálise. Fiz três vezes e larguei as três. Uma acho que era junguiana, outra freudiana, nem lembro mais. Não gostei, não me dei bem. Antidepressivo nunca tomei. Remédio é só para dormir, em último caso. Evito me viciar nessas coisas. Tomo às vezes, quando preciso, um Dormonid. Mas se puder não tomo nenhum e bebo vinho. Com um vinho e mais uns placebos, umas besteirinhas, e mais umas idéias na cabeça eu consigo dormir. Mas é difícil. Eu prefiro evitar ficar dependente. Mas a seco não dá para dormir, simplesmente não dá, você deita e não consegue. Não sei como se faz para dormir.

Você já teve depressão? Depressão, depressão, não. Talvez eu não seja a pessoa mais feliz do mundo, sei o que é angústia, mas não sou uma pessoa deprimida e nem dada a depressões. Angústia criativa eu sei o que é. Nas três vezes em que entrei para a psicanálise foi um pouco por isso, assombrado por um período de infertilidade criativa. Não conseguia fazer nada, e aquilo foi me angustiando, e aí entrava na análise. Por algum motivo, alguma hora eu começava a fazer música, mas não acredito que isso se devia à análise. Quando eu começava a fazer uma música ou algo assim eu me dava alta. Hoje lido melhor com isso. A experiência ajuda, você se diz “paciência, isso é normal”. Você passa por períodos mais brilhantes e outros mais opacos.




Durante algum momento de sua vida já passou pela sua cabeça a idéia de se matar? Não, nunca. Gosto muito da vida, não quero morrer, não. Com tudo o que há, eu quero viver, viver bastante. E viver bem. No futebol eu já anunciei que eu iria pendurar as chuteiras em 2022. Anunciei no campo. Até vai ter uma festa, o pessoal quer fazer um churrasco. Mas isso já faz alguns anos, e agora estou achando que 2022 é cedo, vou estar com 78 anos. Estou com vontade de adiar um pouco [risos]. Você podendo fazer algumas coisas boas até mais adiante dá para viver.




Você já foi cantado por homens? Já fui cantado por homens. Não foi adiante [risos]. Eu achei graça até. Era garoto, recebi uma proposta mirabolante. Achei engraçado. Quando eu era garoto talvez achassem que eu pudesse ser veado, eu era um menino atraente. Mas nunca fui veado, não. Pensando bem, já faz muito tempo que não tem um homem que me faz uma cantada.

Você é a favor da legalização de alguma droga? Sou. E cada vez mais. No Brasil, nos países pobres principalmente, a quantidade de vítimas que o tráfico de drogas faz é muito maior que a de vítimas das próprias drogas. No Brasil, no Rio de Janeiro, moleques de nove, dez anos já estão cheirando cocaína, porque manejam, vendem cocaína. Envolve às vezes uma quantidade muito grande de crianças, adolescentes, acaba com a vida dessa gente, morre gente pra burro. Fora a violência toda que o próprio tráfico vai desencadeando. É claro que você não pode pensar em liberar abertamente o consumo de drogas se não tiver um interesse internacional. Senão, cria-se um problema. Você pode ir a Amsterdã e fumar sua bagana e tal, mas não pode sair de lá com o negócio. Se produzissem legalmente cigarros de maconha, se fossem vendidos nas tabacarias, no Brasil, como aliás digo numa música, não vejo que o dano... quer dizer, haveria, claro, um problema de saúde pública, como com o cigarro, como com as drogas farmacêuticas, o consumo de álcool.
Crises do mensalão, CPIs sobre corrupção, a queda do ministro Antonio Palocci, eleições se aproximando... Como você vê esse momento do Brasil e do governo Lula em particular? Não vejo com nenhuma satisfação especial. Não é um assunto que me entusiasma, não. Mas, enfim, fazer o quê? Podemos falar disso também, até porque as pessoas estão muito exaltadas. Não sei por que as pessoas estão tão exaltadas assim. A argumentação política cedeu lugar a ofensas pessoais, e parece que isso vai se agravar nestes meses que vêm por aí. Não há muito argumento. Porque no fundo, no fundo, honestamente, não vejo como um próximo governo, com quem quer que seja eleito, possa ser muito diferente desse governo Lula, assim como o governo Lula não foi muito diferente dos governos que o antecederam. As notícias de corrupção, mensalão estão na ordem do dia porque são mais recentes, mas elas também repetem práticas similares de governos anteriores. Todo mundo sabe disso. Claro que o governo do Lula é mais vulnerável hoje porque é a vidraça, porque o próprio PT ajuda a jogar pedra na sua vidraça, ao contrário dos partidos mais conservadores, que, por mais que se debatam lá dentro, não saem atirando uns nos outros. Eu fico vendo este pessoal do PSDB e do PFL indignados na TV. Peraí, vamos falar sério, né? Vocês não podem estar tão indignados, surpresos com o nível de corrupção, que não é maior do que foi no governo anterior. Todo mundo sabe como foi conseguida a malfadada reeleição presidencial [do FHC], que é nociva, na Constituição. Todo mundo sabe o que aconteceu, as falcatruas, as tentativas bem-sucedidas de abafar CPIs. Então fica reduzido a quê? O sujeito gosta deste ou gosta daquele. Ou tem simpatia ou alguma vantagem pessoal a levar com governo tal. Eu não tenho isso, não quero proximidade nenhuma com poder nenhum. Mas eu fico um pouco espantado com o grau de agressividade das pessoas. Eu conheci o grau de agressividade do PT, sei como é. Eu já falava isso, tem muito chato neste PT. Ficam enchendo o saco da gente, enchendo o saco dos artistas, cobrando isso e aquilo. Isso acho até que vai acabar um pouco, porque acabou a idéia de que o PT é um partido superior aos outros. Agora, também não vejo por que nesse clima que se instalou no país as pessoas se sentem no direito de ofender o Lula, de enxovalhar. Qualquer um vai para o jornal e manda “e o Lula?”, “é um merda”, “é um bosta”. As pessoas não gostam que se diga, mas isso evidentemente traz um preconceito de classe muito forte. São pessoas que não admitem, até hoje não engolem o fato de o Lula ter sido eleito, ter ocupado o Palácio da Alvorada, ele com a dona Marisa. Então, se na próxima eleição os candidatos forem o Lula, o Alckmim, talvez o Garotinho e uma dissidência à esquerda, eu voto no Lula até por isso. Não posso dizer que estou satisfeito com o governo dele, mas não vejo vantagem nenhuma no governo voltar às mãos do PSDB e do PFL. E, se o Lula for reeleito, acredito que ele, ao contrário do Fernando Henrique, possa fazer um segundo mandato melhor do que o primeiro. Até porque estará livre de uma porção de malas e de gente que atrapalhou. Ele vai ter de governar mais, escolher as pessoas, estar mais atento, mais presente. Mas não gosto da idéia de ele sair escorraçado, pela porta dos fundos, as pessoas xingando, quando não fizeram isso com o Fernando Henrique, nem com o Collor ou o Sarney.
A crítica da imprensa já te incomodou no passado, ao ponto de afetar sua produção. Como você lida com isso hoje? Isso teve mesmo. Nos anos 80 foi barra-pesada. Você cansa, né? Tomando muita porrada, você vai perdendo a vontade de se expor a mais porrada. Eu tinha de ler o Jornal do Brasil com capacete, porque tinha porrada em tudo que era seção. Até a seção de gastronomia dava porrada. A Folha de S.Paulo, numa época, também era uma coisa barra-pesada. Isso, durante uns dez anos, foi muito chato. Principalmente uma certa imprensa paulista muito, muito agressiva. Depois melhorou um pouco. Hoje, não sei. Às vezes tenho a intuição de que algo está se armando [risos], que estão ali atrás, na esquina, espiando, “ele vai passar agora”, prontos para dar porrada. Mas as porradas também com o tempo vão doendo menos, você vai ficando um pouco mais calejado.
Você pensa na velhice, sente ela chegar? Ela vai chegando, vai se instalando aos poucos, tem umas coisinhas que você vai percebendo, uma mazelazinha ali que não tem jeito, é assim mesmo. Mas não estou me queixando, não.
Você tem medo da morte? Medo não, mas quero distância [risos]. Acho que com saúde, fazendo as coisas direito, dá para viver um bocado mais. Gostaria de viver com saúde e imaginação, com vontade de criar coisas. Noventa e tantos anos e virando a noite por causa de uma música, um livro. Formidável. Posso morrer assim.
O Tom Jobim disse que “a gente só leva da vida a vida que a gente leva”. O que você levará da sua vida?Não vou levar nada. Alguma coisa deixarei. Umas musiquinhas, uns livros, filhas, netos. Vou deixar umas coisas bonitas. Coisas que valeram a pena.

http://revistatrip.uol.com.br/144/chico/home.htm

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